Necropapiloscopia auxilia na identificação de 90% das vítimas que chegam à Pefoce

3 de dezembro de 2018 - 18:17 # # # #

Formado por um grupo de profissionais graduados e inspirados em carreiras distintas, mas unidos pela essência da comprovação científica, a equipe do Laboratório de Identificação Necropapiloscópica (LIN), da Coordenadoria de Identificação Humana e Perícias Biométricas (CIHPB), da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), realiza cerca de 90% da identificação das pessoas vítimas de morte violenta ou suspeita que dão entrada na Pefoce. A técnica utilizada provém da análise e comparação das impressões digitais.

 

A necropapiloscopia é o método que consiste no reconhecimento de cadáveres a partir das papilas dérmicas, onde são encontradas as impressões digitais. A coleta das impressões digitais da pessoa falecida é feita e comparada com algum documento trazido por familiares podendo ser a carteira de identidade, carteira de trabalho ou algum outro que tenha o registro da digital da pessoa. Essas impressões também são confrontadas com a base de dados no sistema da Pefoce, que possui mais de 4,5 milhões de perfis cadastrados.

As técnicas empregadas variam de acordo com o estado em que o corpo chega à sede da Pefoce. Em casos de vítimas em avançado estágio de decomposição, as etapas do trabalho podem ser prolongadas, a depender do tempo necessário, para a manipulação de reagentes químicos utilizados no processo – variando de uma a 72 horas. Em ocorrências mais simples, a coleta é feita com um pó fabricado pelo Laboratório de Identificação Papiloscópica (LIP) da Pefoce, o que torna o custo bem mais barato. Após coletadas, as impressões são comparadas com as dos documentos da vítima que também contenham registros digitais.

Evolução

À frente da equipe desde o início das atividades necropapiloscópicas, Laerte Gonçalves, que é mestre em física, capacitado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) e assessor técnico do LIN, conta como o grupo foi crescendo e a estrutura de trabalho foi sendo ampliada até se tornar o que hoje é: referência nacional. “Há quase dez anos, éramos apenas três (auxiliares de perícia) e uma maleta com as tintas e substâncias químicas para a relevação das digitais. Ainda não existia a estrutura que temos hoje, mas já fazíamos o nosso trabalho em casos específicos na época”, revela.

Conforme o responsável pelo laboratório, antes da técnica necropapiloscópica ser difundida nos Institutos de Medicina Legal do País, a liberação dos corpos era feita através do reconhecimento por familiares, o que dava margem a eventuais erros. “Hoje, a possibilidade de haver um erro caiu para zero, pois o processo é científico, mais rápido e mais seguro de se identificar um corpo”, pondera.

Atualmente, o trabalho é realizado por uma equipe que congrega profissionais de diferentes áreas, tais como direito, educação física, farmácia, biologia, enfermagem, entre outras. As técnicas e conhecimentos de cada um resultam na excelência do trabalho e possibilita que haja um aproveitamento para desenvolver outras atividades. “Aqui, a gente se sente entusiasmado e atraído pelo desafio. O trabalho em si é um só, mas podemos lançar perspectivas diferentes com a prática. Eu tenho a minha perspectiva a partir da formação jurídica para a área penal, já o Laerte tem na área da física. E Isso permite que a extensão do nosso trabalho desenvolva outros trabalhos, como o de identificação de pacientes nos hospitais, que também é realizado a partir da papiloscopia”, ressalta o auxiliar de perícia lotado no LIN, Paulo Régis.

Ainda de acordo com Laerte do LIN, todos os cadáveres passam pelo procedimento de reconhecimento científico, e que 90% são comprovados com sucesso. Os outros 10% que não são efetivados através da técnica são casos em que as famílias não levam um documento para o confronto das digitais, ou casos mais específicos em que são submetidos a exame de arcada dentária ou exame de DNA. Este último sendo mais complexo.

Pontos únicos

Após capturarem as papilas dérmicas e transferirem elas para um papel, há uma ampliação desta imagem e da imagem da digital de algum documento da vítima. Para leigos, talvez o desenho das digitais sejam linhas em formato de labirintos desenhados nos dedos, mas os profissionais que lidam com a papiloscopia, há uma leitura técnica que permite mapear pontos. “Nós utilizamos a técnica de ‘Vucetich’ (cientista que decifrou os pontos matrizes das digitais). Precisamos encontrar 12 pontos únicos nas amostras. Cada pessoa tem seus pontos, e eles não coincidem com o de mais ninguém. Quando essa busca não é manual, ela é criptografada no nosso banco de dados”, revela o auxiliar de perícia, Éder Pinheiro.

Economia

A Necropapiloscopia reduz custos com exames de DNA. Com a utilização da técnica para identificação dos corpos, os exames realizados pelo Núcleo de DNA Forense atendem às prioridades dos casos de violência sexual e ocorrências que exigem o processamento de amostras de vestígios encontrados, como em locais de crime de homicídios e latrocínios, que são mais complexos. “Além de ser uma comprovação científica eficiente, reduz e muito os custos aos cofres do Governo, pois um exame necropapiloscópico custa em torno de R$ 3,80, enquanto um de DNA tem média de R$ 500”, explica Laerte.