Encontro de saberes: gerações de Farmacêuticos da Pefoce se conectam no trabalho em prol da elucidação de crimes
20 de janeiro de 2025 - 20:27 ##Dia Do Farmacêutico ##pefoce #Calf
Hoje, dia 20 de janeiro, é celebrado o Dia do Farmacêutico. A data faz alusão a fundação da Associação Brasileira de Farmacêuticos, que ocorreu em 1916. Mas, a história dessa profissão remonta de um passado ainda mais distante. Desde os antigos boticários, a atuação do farmacêutico vem se transformando. Além do tratamento de doenças, da pesquisa e da divulgação de conhecimento científico, os farmacêuticos também atuam na justiça.
Anderson Moraes é farmacêutico de formação e perito legista da Perícia Forense do Estado do Ceará ( Pefoce). Atuando no Núcleo de Toxicologia Forense, o perito explica a importância da formação dentro do âmbito da justiça. “O profissional farmacêutico é de grande importância para a perícia forense e para a justiça. Porque através dos conhecimentos vindos da formação e das análises laboratoriais forenses, conseguimos trazer materialidade para fatos que não podem ser vistos a olho nu, que não conseguem ser verificados em uma necrópsia ou em uma perícia local”, complementou. O Núcleo de Toxicologia Forense (Nutof) faz parte da Coordenadoria de Análises Laboratoriais (Calf), onde o perito formado em farmácia atua, exclusivamente.
O dia a dia
O Nutof é dividido em dois setores. Um deles é o setor de amostras brutas, onde os peritos analisam drogas apreendidas em operações policiais, medicamentos deixados em cenas do crime e outros tipos de material estranho. O outro setor é a toxicologia das amostras biológicas, na qual Anderson atua. “A gente faz aqui a pesquisa de substâncias potencialmente danosas. Por exemplo, pesquisa de venenos, alcoolemia, que seria a dosagem de álcool no sangue, uma análise mais precisa do que aquela feita pelo bafômetro. Também realizamos pesquisas de psicotrópicos, em amostras biológicas“, informou Anderson.
Além das atuações, o perito também explica a rotina dentro do Núcleo de Toxicologia. “A rotina do farmacêutico no setor de amostras biológicas ocorre de forma organizada. Recebemos um lote de amostras vinculado a um período de ocorrência e, a partir daí, elas passam por uma triagem realizada. Verificamos 21 classes diferentes de substâncias, sendo que cada classe contém várias outras substâncias. Esse processo ajuda a direcionar as pesquisas que precisamos realizar no setor”, finalizou ele. Anderson Moraes atua na Pefoce há menos de um ano, uma caminhada que teve início há apenas alguns meses, mas existe quem esteja na caminhada há mais tempo, como Paulo Marcelo, também conhecido como “Paulinho” por seus colegas.
Paulo Marcelo, o “Paulinho”
Farmacêutico de formação, Paulo, ou Paulinho, foi formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC). A escolha pelo curso de farmácia foi por afinidade. Análises clínicas, biologia molecular e, principalmente, medicamentos foram tópicos que tiveram peso na escolha de carreira. Paulo tem mais tempo de Pefoce do que de farmácia, chegando em 1979, quando o órgão ainda funcionava na Parquelândia. Mas nada de remédios ou análises laboratoriais. Ele atuava na parte burocrática, com laudos e documentos. Em julho de 1980, Paulo chega na UFC, onde dá início a uma carreira que irá lhe acompanhar pelos próximos anos.
Passados cinco anos, Paulo continuou na Perícia Forense, não mais na burocracia, mas no laboratório. “Quando eu me formei e vim para o laboratório efetivamente, o mundo se abriu para mim. Foi um trabalho de excelência e eu tenho muito respeito por esse trabalho até hoje. Eu procuro dignificar o máximo possível essa profissão de perito. Gosto muito do que faço, muito, muito mesmo.”, relatou.
Três décadas após entrar na Pefoce, o farmacêutico sai da Perícia Forense do Estado do Ceará em 2009 e vai para a Brasília, onde reside por 10 anos, retornando em 2019.
Durante esse período, muita coisa mudou. “Nesse lapso de 10 anos, muitas mudanças ocorreram. E quando eu voltei, encontrei algo totalmente diferente de outrora, tanto em número de perícias, como na na complexidade dessas mesmas pericias. Eu tive que reaprender muita coisa, porque foi um universo bem diferente daquele de quando eu saí daqui”, lembrou.
Mas para além das mudanças institucionais, burocráticas, setoriais, a rotina também nos obriga a reaprender muita coisa, como conta Paulo. “Eu acho que a Pefoce, a cada dia que você está aqui, é um eterno aprendizado. Você sempre está aprendendo alguma coisa. Poxa, mas eu pensei que com tanto tempo de trabalho, eu pensei que já soubesse muita coisa. Realmente, alguma coisa fica, mas você ainda aprende muito no dia a dia. E isso é bom. Se você está aberto a receber novas coisas, isso é bem interessante”, ressaltou.
Hoje, Paulo Marcelo é perito criminal adjunto, no Nutof, setor de amostras brutas. Após tanto tempo, ele ainda tem o brilho nos olhos da profissão. “ Eu gosto do que eu faço. Sempre gostei muito. A minha rotina de trabalho é onde eu me encontro, é onde eu me sinto útil pra alguma coisa. E eu acho que tem alguma coisa ainda paravdar para as pessoas. Como eu disse, é um aprendizado. Você sempre leva algo de alguém e sempre deixa algo de si para alguém. Isso é o que faz a gente ter um trabalho, ter a consciência de que tá fazendo um trabalho de excelência. E, sobretudo, vem também a valorização pessoal mesmo, de você ter feito esse trabalho com afinco, e dar essa satisfação pra você”, acrescentou.
Mas, como toda caminhada também tem seu fim, em abril de 2025, Paulo entra na aposentadoria e vai se despedindo da Pefoce após tanto tempo. Foram 35 anos de uma carreira que faz parte da história da própria instituição. Parafraseando o próprio Paulinho, que diz que “você sempre leva algo de alguém e sempre deixa algo de si para alguém”, ao longo desse tempo, houve amizades acumuladas, histórias para rir e para
chorar, imagens que só existem na memória, muita coisa que deixou para os outros e tanta coisa que vai levar. “E, aí, o que que eu levo? Eu levo muita saudade de tudo que eu aprendi, dos amigos que eu cultivei aqui, do trabalho em si”, concluiu