De pai para filho: uma história de paixão pela Medicina Legal

7 de agosto de 2021 - 22:17 # #

Texto e Fotos: Francisco Monteiro - Ascom Pefoce

Para celebrar esse Dia dos Pais de 2021 e parabenizar todos os pais que fazem parte da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), faremos uma homenagem a dois servidores que compõem nossos quadros, curiosamente, pai e filho, cujas histórias de vida são emblemáticas na evolução do órgão e sintetizam da melhor forma a relação paternal que dá sentido a esta data. Uma história de cumplicidade, admiração, aprendizado, orgulho e respeito, que muito engrandece nossa instituição.

Uma visita acidental

Aos sete anos de idade, Daniel não imaginaria que aquela passagem inesperada pelo trabalho do papai seria o prenúncio da carreira que abraçaria com tanto amor e dedicação na atualidade. O então Diretor Técnico-Científico do órgão, médico perito legista Dr. Francisco Simão, recebe uma ligação para resolver uma emergência, durante um passeio de família. Sem opção, deixa seu filho caçula Daniel brincando no seu gabinete e parte para o necrotério do Instituto Médico Legal, atual Coordenadoria de Medicina Legal (Comel) da Pefoce.

Poucos minutos após, percebendo a ausência do pai, o pequeno Daniel adentra a sala de necropsia e passa a observar curioso aquele ambiente. Para a surpresa do Dr. Simão, o menino não se amedrontou. Tranquilo, fascinado pelas luzes, fez algumas perguntas, que o experiente médico logo tratou de responder de forma compatível com o universo da criança, tratando de retirá-lo imediatamente daquele ambiente.

“Ele encarou tudo aquilo ali com muita naturalidade, que me surpreendeu. Esse processo de naturalidade evoluiu, de modo que, rapidamente, quando ele entrou na faculdade de Medicina, já manifestava as intenções de ser médico legista. Houve o concurso, foi aprovado, e hoje é médico legista. Às vezes, acho que o legista veio antes do médico no coração do Daniel”, assim nos conta com suas palavras o orgulhoso pai Simão.

O filho

Daniel Simão inicia sua carreira de médico perito legista no ano de 2013, exercendo suas atividades no Núcleo de Perícia Forense da Região dos Inhamuns, sediado na cidade de Tauá. No entanto, já trazia em sua bagagem uma longa experiência, vivenciando a rotina da profissão do pai. Desde o início, na convivência lúdica, passando a desempenhar a função de carregar a maleta e a máquina fotográfica, até acompanhá-lo em casos complexos, o jovem perito foi imerso no universo das perícias, o que norteou sua forma de atuar.

“Sou plantonista do interior, onde há muita possibilidade de visitar cena, local de crime, o que ajuda muito a compor nosso pensamento técnico. Fui imerso desde novo nesse meio, observando a forma que meu pai lidava com a autoridade policial. Essa é a mesma forma que hoje eu tento passar para os meus laudos. Às vezes é difícil você fazer uma produção técnica e ter um contato direto com delegado, mas o papai sempre fazia isso. Ele conversava com delegado, levava o laudo na delegacia, apresentava o caso, mostrava as fotos, tentava transmitir o conhecimento, e eu faço isso hoje também. Não que eu achei que seria uma coisa que daria certo. Eu sempre o vi fazendo e sabia que teria mais resultado. Esse nível de interação, de reconhecimento interpessoal, eu aprendi com ele”.

O pai

O pai zeloso Simão não esquece de citar os demais filhos, três médicos, dentre eles o perito Daniel, e um educador físico, além da esposa fisioterapeuta, o que ele mesmo denomina como um conglomerado formado para a saúde e o bem-estar. Assim como a percepção do filho, de reconhecer a influência do pai na sua atuação como médico perito legista, Simão também percebe que sua trajetória como médico e legista, muitos dos quais à frente da Perícia Forense (Diretoria Técnico-Científica – DTC à época), também contagiou diretamente a trajetória de todo o seu grupo familiar, o que ele chama de literalmente um DNA replicado.

Observando o crescimento da Pefoce, Dr. Simão comenta sobre sua brilhante carreira no órgão e a satisfação de ver hoje o desenvolvimento tecnológico, dos recursos humanos, a realização de concursos públicos, a progressão da instituição no Estado do Ceará, processo que se iniciou durante sua gestão, com a inauguração dos núcleos de Sobral, Juazeiro do Norte e Quixeramobim. Uma luta bem difícil à época, mas que ele define como o movimento de uma organização viva, que cada vez mais vem ocupando seu espaço.

“Na época éramos uma instituição acanhada, funcionando ao lado do Hospital São José. Eu via uma oportunidade muito grande de promover uma evolução desse processo de crescimento, e cada vez mais mostrar que ela é plena, útil à sociedade, útil à Justiça e útil à polícia, no sentido das investigações criminais, útil no sentido de fazer e trazer as materialidades que se precisa para elucidar casos complexos, trabalhando de maneira plena a questão multifatorial da violência”.

O exemplo arrasta

O médico costuma dizer que serviu à sociedade cearense por 60 anos, porque viveu esses 30 anos diuturnamente: “A gente tinha um processo de imersão realmente pleno e foi muito bom no sentido de que centenas de vezes se teve a oportunidade de ajudar as pessoas. Você fazer alguma coisa por alguém que não tem nada já é muito gratificante. Quando essa pessoa não tem nem sequer mais a vida, é mais gratificante ainda. Ali só tem você, na sua análise técnica, no seu conhecimento, na sua formação, para defendê-la e fazer a justiça acontecer. Eu tenho certeza que, sem maiores esforços, passei isso para o Daniel. Ele viu, ele sentia o trabalho, e o exemplo é a coisa que mais arrasta a execução de uma tarefa. Hoje eu me considero plenamente realizado, pelo que eu fiz e pelo que eu deixo para meus filhos”.

O filho ratifica as palavras do pai e finaliza demonstrando todo seu orgulho: “Eu sempre tive essa referência, de uma pessoa digna, daquilo que devo fazer para minha família, esse grande exemplo de homem e trabalhador. Ele também representa pra mim uma referência no lado profissional, que eu sigo hoje, tanto dentro da minha carreira de cirurgião cardíaco, pois acompanhava ele nas suas cirurgias cardíacas também, como aqui na Pefoce. Muitas coisas que faço hoje, na minha atividade como médico perito legista, são coisas que eu aprendi com ele.”