Após um ano de pandemia, Pefoce segue identificando substâncias ineficazes contra o vírus e tóxicas à saúde

20 de abril de 2021 - 20:17 # # # # #

Texto e Fotos: Francisco Monteiro - Ascom Pefoce

A pandemia ocasionada pelo Sars-CoV-2, o novo coronavírus, alterou significativamente a vida das pessoas, modificando rotinas e comportamentos. No Núcleo de Química Forense (NUQFO), da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), um novo agente químico passou a fazer parte da rotina de análise: o álcool em gel. Há pouco mais de um ano, a Pefoce vem realizando análise desse tipo de substância e constatando a falsificação e adulteração desse insumo, que hoje está presente no dia a dia de grande parte da população. O que muitas pessoas não sabem é que podem estar utilizando um produto sem eficiência contra o vírus e maléfico para a saúde.

Um dos principais aliados no combate contra o contágio do novo coronavírus, o álcool em gel, na concentração de 70% de etanol (em ºINPM), possui a capacidade de inativar o coronavírus. Neste último ano de pandemia, com a ação de falsários e empresas inidôneas, o Núcleo de Química da Pefoce passou a realizar esse tipo de análise, dando suporte nas investigações contra essas ações criminosas.

Reinventar

A prática delituosa dos adulteradores demandou o empenho dos peritos do NUQFO, que contaram com a parceria com o Núcleo de Tecnologia e Qualidade Industrial do Ceará (Nutec), da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece), para analisar as amostras encaminhadas para a Pefoce. “Através desse networking foi possível o desenvolvimento de metodologias para que pudéssemos ter um protocolo para a análise de álcool em gel e observou-se o processo de desconformidade com as normas preconizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”, ressalta o perito criminal e doutor em química, Túlio Oliveira, responsável pela Coordenadoria de Análises Laboratoriais Forenses (Calf) da Pefoce.

Desde o início da pandemia, em março de 2020, até as primeiras semanas deste mês de abril, a Pefoce atuou nas investigações de 17 casos envolvendo unidades de álcool em gel e líquido adulterados. A instituição não parou de realizar esse tipo de perícia, contribuindo diretamente com a saúde da população cearense através das análises que subsidiam as investigações de falsificação e adulteração deste tipo de produto, recebidas pela Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE).

Análises

Os peritos identificaram, além de produtos fora das especificações, substâncias inesperadas e ineficientes contra o vírus, como, por exemplo, gel capilar comercializado como álcool em gel e que não fornece proteção nenhuma ao usuário, bem como substâncias nocivas à saúde, como os hidrocarbonetos, produtos altamente tóxicos derivados do petróleo, metanol e clorofórmio, um composto clorado tóxico. De todas as amostras analisadas, constatou-se, de uma forma ou de outra, que todas elas ofereciam real prejuízo à saúde pública.

A perita criminal em engenharia química e supervisora do Núcleo de Química da Pefoce, Amanda Camelo, faz um alerta à população para a observância do rótulo dessas embalagens, se consta o teor de 70 ºINPM de álcool, pois é o único que garante a eficácia contra o coronavírus, de acordo com estudos científicos de renomados centros de pesquisa. Chama a atenção também para a procedência dos locais de compra, para que a população dê preferência a estabelecimentos idôneos conhecidos, como supermercados, farmácias e lojas especializadas.

Outro cuidado ao adquirir o álcool em gel é a busca da empresa no site da Anvisa, através das informações no rótulo do produto, verificando se possui a Autorização de Funcionamento da Empresa (AFE). Conforme a perita criminal, desconfiar de erros ortográficos contidos nas informações da embalagem também pode ser um indício. Outro alerta é para que as pessoas não sigam receitas e testes que estão sendo divulgados na internet, pois podem resultar em grandes riscos à saúde, além de provocar incêndios: “Não façam testes ou algum tipo de misturas que estejam sendo divulgadas em redes sociais. Isso pode ser muito arriscado”, pontua.

Nas análises feitas pelo NUQFO, em amostras questionadas de álcool em gel, também foi constatada a presença de alguns tipos de contaminantes oriundos de etanol de postos de combustíveis. Essa prática representa um grave risco à população, pois o envase através da bomba de combustível contamina o álcool, que é utilizado como matéria-prima para a produção do álcool em gel, podendo ocasionar desde a irritação na pele e até mesmo causar a morte em alguns casos.

Tecnologia de ponta

Para estas perícias, o Núcleo de Química Forense se utiliza da mais alta tecnologia, utilizando equipamentos de última geração, como o Espectrômetro na região do Infravermelho com Transformada de Fourier (FT-IR), conhecido na rotina dos peritos como o “Infra”, que analisa a presença do espessante (polímeros, como o Carbopol). Ou seja, a parte do álcool em gel não composta por álcool puro (etanol), responsável por dar forma, consistência, cor e aroma ao produto, além de reduzir sua capacidade incendiária. Uma simples gota na lente do FT-IR se transforma em gráficos complexos que são decifrados na tela do computador.

Outro grande aliado dos químicos do NUQFO é o Medidor Automático de Densidade, ou Densímetro. Uma pequena caixa mágica branca com luzes coloridas que revela o teor de álcool em °INPM na amostra. Túlio Oliveira explica que há um limite de tolerância de 5%, para mais ou para menos, neste tipo de análise, sem a perda do efeito esperado de inativação do vírus, estando em conformidade com as resoluções da Anvisa.

Completando o time dos equipamentos de ponta, o Cromatógrafo Gasoso, ou simplesmente “CG”, ajuda os peritos na identificação de possíveis contaminantes nas amostras de álcool em gel, como por exemplo, os hidrocarbonetos derivados de combustíveis que são tóxicos para a saúde.

Dicas

Para finalizar, a equipe do Núcleo de Química Forense reúne dicas simples e preciosas para a população na hora de adquirir o álcool em gel:

– Verifiquem se a informação da concentração de 70% de etanol, presente no rótulo, vem sucedida da sigla ºINPM, pois essa leva em consideração a densidade do material por massa, preconizada pela Anvisa. Alguns falsários utilizam o teor expresso em volume (ºGL), que é inferior (70 ºGL correspondem a aproximadamente 56 ºINPM), para confundir a população;

– A ausência de qualquer sigla após o 70 também é sugestiva de irregularidade do produto;

– O valor da quantidade total do produto deve estar expresso em massa (gramas), por exemplo 500g, e não somente em volume (mililitros ou litros). A utilização das duas unidades de medida também é aceita (massa e volume);

– Desconfiem de erros grosseiros de ortografia nos rótulos;

– Comprar produtos de marcas e estabelecimentos confiáveis;

– Verificar no site da Anvisa, através do rótulo do produto, se o fabricante possui a Autorização de Funcionamento da Empresa (AFE).

Caso haja alguma dúvida quanto ao aspecto suspeito do produto adquirido, o NUQFO sugere à população realizar a denúncia junto à Polícia Civil, para que esse material seja encaminhado à Perícia Forense, que analisará a amostra e contribuirá no processo de investigação.